segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Vida de retirante

Volto renovada de um retiro de meditação. Lugar lindo, muito mato, muito verde, sol quentinho sem muito calor, barulhinho de rio, cachoeira. Pessoas legais com mentes e antenas voltadas para a paz. Ambiente de gentileza, harmonia. Comida deliciosa, vegetariana.
Oportunidde de meditar sem pressa, com bastante tempo. 8 horas meditando no sábado! Oportunidade rara, que o Lama Samten chama de Rebeldia, já que o mundo nos solicita a atuar o tempo todo, produzir o tempo todo. Neste contexto, sentar e ficar imóvel, observando a mente, é sim um ato de rebeldia.
E sobretudo , muito silencio e quietude , ingredientes vitais para mim.

Que venham muitos e muitos outros retiros e que eu possa participar de todos !

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Conselhos para mulheres que merecem um amor bacana !


Minha amiga me liga contando que depois de ter desistido dos príncipes, andou beijando uns sapos, mas que também já não os aguenta mais !
Respondo o que me vem à cabeça ....
Realmente os príncipes são muito chatos. Chegam sempre com aquela história de salvador, redentor, provedor e etc, narcisos que são. E prometem sempre mais do que podem cumprir. Insistem em nos tratar como Belas Adormecidas, afinal , tanto nós quanto eles, crescemos ouvindo essas baboseiras. Somos belas sim, mas estamos beeeeem acordadas. Só que no conto de fadas existe uma página final, com “foram felizes para sempre”. Mas na vida real , ninguém nos previne que não é assim , que não tem essa página final. Por essas e por outras , Viva o Shrek !!!!!!
Quanto aos sapos, são imensamente mais interessantes, charmosos, misteriosos, com histórias interessantes pra contar. Mas no entanto, são muito perigosos. Não podemos esquecer que todos eles são enfeitiçados. Nos contos de fadas, as responsáveis pelos feitiços eram as bruxas e/ou madrastas. Sempre uma mulher poderosa. Atualmente são as ex ou aquelas por eles nunca conquistadas.... Corramos dos sapos que receberam os feitiços modernos ou seja, foram abandonados, trocados, traídos então nem se fala. Jamais se recuperam deste feitiço, não há beijo de princesa que dê jeito.

Fujamos dos príncipes chatos e dos sapos enfeitiçados. Que tal o homem comum que às vezes está bem do nosso lado ?

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Náusea doce

"O que chamava de crise viera afinal. E sua marca era o prazer intenso com que olhava agora as coisas, sofrendo espantada. (...) Ela apaziguara tão bem a vida, cuidara tanto para que esta não explodisse. Mantinha tudo em serena compreensão, separava uma pessoa das outras, as roupas eram claramente feitas para serem usadas e podia-se escolher pelo jornal o filme da noite - tudo feito de modo a que um dia se seguisse ao outro. E um cego mascando goma despedaçava tudo isso. E através da piedade aparecia a Ana uma vida cheia de náusea doce, até a boca. "

( Clarice Lispector - Laços de Família )

Também me chamo Ana, Clarice. Mas comigo não foi um cego mascando goma. Foi um velhinho arrumando a barraca de frutas de manhã, iniciando seu dia de trabalho. E eu ali parada do outro lado da rua, esperando o sinal abrir, senti todo o absurdo da rotina, que antes me fazia tão bem. A vida ficou pesada. Heidegger, Kierkegaard, Sartre, Simone, Nietzche, vieram todos de uma vez. Não mais com palavras. Senti o peso da existência e tive medo. Nariz encostado no limite da Matrix, percebi o engodo e me perdi. Qual uma Alice de 44 anos, vi passar meu coelho branco de colete e relógio e tentei segui-lo, mas não encontrei um país de maravilhas. Tudo ficou cinza, a vida se arrastava. Perdi o ritmo, descompassei .

A volta tem sido muito mais suave. Terapia, florais e muita, muita meditação. A simplicidade (?)do budismo que me apresentou a fórmula para me mover dentro desse software chamado Samsara e voilá, um mundo paradoxalmente mais leve. Parece mágica, mas não é. Dói, pesa, incomoda, mas liberta. Tô voltando, um ano depois. Mais devagar com a vida, mais suave, com um olhar mais doce pras pessoas , mais perto do que posso chamar de compaixão, numa perspectiva de que estamos todos no mesmo barco. Nada mais é tão sério, nada mais tão pesado. Precisei sentir todo o peso, para então, descobrir toda a leveza da vida, toda a transitoriedade do que chamamos realidade, nessa nossa busca inútil por solidez.

Não preciso mais ter razão, nem entender tudo. Apenas ser.

Nesse caminho de volta, às vezes ela ainda vem de mansinho, como uma sombra leve que vem do nada. Náusea doce - a melhor definição que encontrei para essa coisa . Estava aqui em casa e lembrei do livro . A mão foi certeira na estante, direto nas folhas, direto no conto lido há tantos anos atrás. Ali estava. No meu conto preferido, do meu livro preferido, dos escritos por você Clarice.
Alguns chamam de depressão, transtorno do pânico, tristeza, melancolia, frescura, falta de um "tanque de roupa pra lavar" rs rs
Eu gosto mais de náusea doce.