terça-feira, 25 de outubro de 2005

Ficha

Vinha apressada pela Rio Branco, quando seus olhos ( como são autônomos ! ) se fixaram na cena nada inédita : um rapaz tentava entregar panfletos às pessoas que passavam pela calçada. Poucas se detinham. Outras de início interessadas, logo seguiam seus caminhos.Sem saber porque e sem mesmo se dar conta, ficou ali parada, imóvel, assistindo sem dizer palavra.Buscou uma vitrine e passou a considerá-la minuciosamente, mas seus olhos de esguelha, continuavam a fitar o rapaz em suas tentativas.A vendedora interrompe, solícita:- Posso ajudar?A resposta saiu automática:- Só estou olhando, obrigada .Liberta do transe, seguiu seu caminho.Durante todo dia a cena ia e vinha em sua mente, flashs que apareciam sem aviso prévio e sem aparente conexão com nada.À noite, em mais um dos (agora freqüentes) episódios de insônia, decidiu levantar. Lera em algum lugar que nesses casos, não adianta ficar na cama. Melhor buscar algo pra fazer.Foi para a sala acender um incenso, mas a cena lhe veio novamente, muito nítida, mas diferente. Agora não havia mais o rapaz. Era ela.Era ela quem tentava em vão entregar algo às pessoas, mas como na cena real, poucas se detinham. Era ela quem tinha algo importante a dizer, a dar, a entregar, mas poucos se detinham.O fósforo quase lhe queima os dedos. Desiste do incenso, não é mais necessário. Agora entendia tudo, tudo estava bem claro.Voltou pra cama, dormiu até o dia seguinte.

Nenhum comentário: